A Quimbanda, por muito tempo tratada em segredo absoluto em muitas partes do Brasil, tem despertado interesse de inúmeros curiosos nos últimos tempos. Infelizmente, esta religiosidade, desconhecida por tantos, tem sido retratada de maneira sensacionalista e equivocada pela maioria das publicações nacionais. Seja no Sudeste, no Nordeste, no Sul ou em qualquer região do Brasil, a Quimbanda tem sido vista como sinônima de malignidade.
Diego de Oxóssi, Chefe de Quimbanda afro-gaúcha e Babalorixá, é um dos poucos responsáveis pelo espalhamento de boas e confiáveis informações sobre Exu e Pombagira na nossa língua materna. Não seria exagero afirmar que Diego vem, desde o lançamento de seu livro de estreia “Desvendando Exu: O Guardião dos Caminhos” (Arole Cultural, 2018), nadando contra uma verdadeira corrente de desregramento que insiste em alardear a Quimbanda e seus espíritos como um legítimo “show de horrores”.
Com a mão pesando somente para o lado macabro da balança, grande parte dos divulgadores da Quimbanda no nosso país tem falhado em apresentar a complexidade, a beleza e os reais desafios e virtudes dessa espiritualidade verdadeiramente brasileira. Sem falar também na ignorância que esses mesmos divulgadores demonstram acerca da própria origem da Quimbanda, que vem resultando na multiplicação de teorias questionáveis sobre a natureza dessa religiosidade. O resultado disso é uma profusão de equívocos conceituais e de práticas frágeis. Uma verdadeira “salada” indigesta que poderá cair muito mal para os incautos.
Neste livro que o leitor agora tem em mãos, Diego de Oxóssi novamente nos brinda com sua clareza e honestidade contundentes. Mais do que isso, nesta publicação, Diego entrega muito. Ele entrega uma boa parte da sua alma, das suas opiniões e também uma grande dose de segredos. Porém, o que ele oferece de mais valioso é a sua visão experimentada e apaixonada sobre a Quimbanda e sobre Exu e Pombagira. Uma visão que os praticantes de Quimbanda em todas as suas vertentes deveriam estudar e considerar.
Diego descreve com sabedoria e elegância os Reinos de Quimbanda, matéria essencial para a compreensão dessa espiritualidade. Como ele mesmo coloca, em outras palavras, é por meio da compreensão destes “locais de poder” e de suas interações que o quimbandeiro poderá se aprofundar verdadeiramente na acepção de Exu e Pombagira.
Porém, ele vai além. Nesse livro, o leitor encontrará raízes históricas perdidas e esquecidas, teorias acerca da formação da Quimbanda no Sudeste e o no Sul e sugestões de como tratar os espíritos e do que lhes oferecer. Porém, a maior surpresa desta publicação é mesmo a revelação dos oráculos de Quimbanda, principalmente do oráculo chamado de “Mesa Imperial”, um verdadeiro tesouro que Diego nos doa.
Eu estou certo de que “Os Reinos de Quimbanda e os Búzios de Exu” já nasce como referência. Se o leitor – ou o curioso que está lendo estas orelhas em uma livraria – for umbandista ou candomblecista ou ainda de qualquer outra denominação afro-brasileira, recomendo fortemente que leve este livro para casa e que o estude. Aproveite cada capítulo com carinho e medite sobre essa contribuição valiosíssima ofertada pelo autor. Poucas vezes a Quimbanda – em qualquer vertente – foi retratada tão genuinamente e de maneira tão completa.
Agora, se você não tiver interesse em religiões afro-brasileiras, mas for um apreciador de religiosidades outras e de cultura brasileira, também recomendo fortemente que adquira este livro. Nele está codificado um pedaço da brasilidade. Uma parte do corpo espiritual do nosso vasto país está retratada apuradamente nas palavras desta obra. Ler as páginas deste volume é, além de tudo, um exercício de compreensão do que é ser e viver no Brasil.
Laroyê! Alupandê!
Eduardo Regis
Quimbandeiro, umbandista, hougan e especialista em Ciências da Religião.