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Ao final do século xix, físicos e matemáticos haviam descoberto tanto sobre o Universo que chegaram a considerar ter entendido tudo o que havia para entender. Quebraram a cara feio: na primeira metade do século xx, Max Planck, Albert Einstein e Kurt Gödel bagunçaram com força o coreto das ciências exatas.
O livro que você tem em mãos, do cientista e escritor Stefano Mancuso, promete revolução semelhante no domínio da biologia ao incluir as plantas – meramente ornamentais ou até mesmo entediantes para tanta gente – no rol das formas de vida que apresentam comportamentos interessantes, ainda que sem cérebro.
O argumento se apoia em evidências datadas de vários séculos, mas foi apenas recentemente que o assunto se firmou como ciência merecedora de legítima atenção e intensa curiosidade. Os resultados experimentais apresentados por Stefano Mancuso são surpreendentes e convergem para uma mudança paradigmática que situa as plantas bem mais perto da cognição animal do que supunha nossa vã biologia.
O livro descreve saborosamente a origem e o desenvolvimento desse campo de pesquisa, desde os estudos pioneiros da Mimosa pudica realizados por Lamarck e Desfontaines no século xviii, até os experimentos mais recentes realizados por Mancuso e sua equipe no Laboratório Internacional de Neurobiologia Vegetal da Universidade de Florença.
As perguntas abordadas são fascinantes: como as plantas sabem o momento exato em que devem florescer? Elas são capazes de lembrar? Em caso afirmativo, qual a duração dessa memória? Como funciona o mimetismo vegetal capaz de simular o tamanho, a cor e a forma de múltiplas espécies diferentes?
As maravilhosas respostas já obtidas, bem como as persistentes dúvidas ainda não elucidadas, demarcam com nitidez uma fronteira nova, verdadeira agenda verde da pesquisa de ponta no século xxi. A sinalização bioquímica das plantas, que lhes permite cooperar de forma descentralizada e adaptativa, rompe hierarquias e nega o senso comum sobre a passividade das plantas, em suposto contraste com a atividade típica dos animais.
Os experimentos indicam, entretanto, que tais conceitos estão ultrapassados e já não nos servem mais. Através de mecanismos epigenéticos, as plantas exprimem a cognição lenta mas profunda dos Ents de j.r.r. Tolkien: seres imóveis que se espalham por onde podem, que habitam o tempo sem pressa nenhuma, e que devem ser protegidas dos agrotóxicos. Mancuso postula que estamos prestes a adentrar uma contundente revolução tecnológica, com robôs e colonizadores planetários de inspiração vegetal. É planta na cabeça!
Sidarta Ribeiro